Soft Gamma Repeaters (repetidores de gama fraco)

Dia: 5 de março; Ano: 1979 , duas espaçonaves soviéticas, as Venera-11 e 12, viajavam pelo Sistema Solar interno, em órbitas elípticas. Meses antes, tinham lançado sondas de exploração na tóxica atmosfera de Vênus. Depois disso, a viagem prosseguiria sem maiores problemas. Os detectores de radiação a bordo das duas naves oscilavam em torno de 100 registros por segundo. De repente, porém, duas as naves foram atingidas por um impulso de radiação gama. Numa fração de um milissegundo, o nível de radiação subiu para 200 mil registros/s. Onze segundos mais tarde, os raios gama atingiram a espaçonave norte-americana Helius-2. Uma frente de ondas de alta energia estava varrendo o sistema solar. A frente atingiu Vênus e saturou o detector da Pioneer Vênus Orbiter. Segundos depois, os raios gama chegaram á Terra. Inundaram os detectores de três satélites militares norte-americanos Vela, e do satélite soviético Prognoz-7. Finalmente, ao se dirigir para fora do sistema solar, a radiação gama atingiu a International Sun-Earth Explorer.

Esse pulso de radiação de alta energia foi 100 vezes mais intenso que qualquer outra emissão anterior de raios gama vinda de fora do Sistema Solar. Durou apenas dois décimos de segundo. Ninguém notou imediatamente sua passagem, pois a vida continuava normalmente na superfície da Terra, protegida por seu escudo atmosférico.

Os astrônomos obsrevaram várias estrelas que emitem raios gama e raios x , milhões de vezes mais intensas que qualquer outra fonte conhecida. As enormes energias e as emissões em pulsos indicam a presença de uma estrela de nêutrons, o segundo tipo de corpo mais extremo do Universo, depois dos buracos negros. Essas estrelas de nêutrons têm os campos magnéticos mais intensos já registrados. Daí vem o nome de magnetar. As erupções podem ser atribuídas a instabilidades magnéticas parecidas com terremotos. Mas o que leva uma estrela de nêutrons comportarem-se dessa maneira? A solução surgiu de uma linha de trabalho completamente separada que tinha como foco os pulsares em rádio. Acredita-se que os pulsares sejam estrelas de nêutrons magnetizadas que giram rapidamente. No magnetar o campo magnético deveria agir como um freio na rotação. No prazo de cinco mil anos, um campo de 10 elevado a 15 gauss reduziria a rotação para oito segundos, o que explicaria as oscilações observadas na erupção de 1979. Quando o campo evolui e muda de forma, correntes elétricas passam pelas linhas de campo gerando raios X, o campo magnético curva e dilata a crosta rompendo-a como um terremoto. A liberação de energia magnética que acompanha o fenômeno cria uma nuvem densa de elétrons e pósitrons, assim como uma “erupção súbita de raios gama fraco”.

De acordo com as equações de Maxwell sobre o eletromagnetismo, quando um objeto magnetizado se comprime por um fator de dois, seu campo magnético fica mais forte por um fator de quatro. O núcleo de uma estrela de grande massa sofre um colapso por um fator de 10 elevado a 5 entre seu nascimento e a formação de uma estrela de nêutrons. Assim seu campo magnético deve tornar-se 10 elevados a 10 mais fortes.


A história das magnetares nos lembra o quanto ainda precisamos aprender sobre nosso Universo. Identificamos no máximo umas poucas estrelas de soft gama repeaters (estrela de raios gama fraco) no incontável número de estrelas. Eles se revelam apenas por uma fração de segundo, de uma maneira que só os telescópios mais aperfeiçoados podem registrar. No prazo de 10 mil anos, seus campos magnéticos congelam e eles deixam de emitir raios X de alto brilho. Poucas estrelas soft gama repeaters indicam a presença de mais de 1 milhão e de talvez 100 milhões de outros corpos, antigas soft gammas que se apagaram. Mortas, elas vagueiam pelo espaço interestelar. Que fenômenos singulares e espetaculares não nos espera nesse universo ainda completamente desconhecido?










fonte: cfa-www.harvard.edu/events/2002/grbconf/index/speaker_presentation/hurley.pdf -

www.on.br/revista_ed_anterior/novembro_2003/noticias/noticias/magnetar/magnetar.html -